quinta-feira, 26 de abril de 2012

Fontes de estatísticas judaicas

O texto a seguir é básico para qualquer projeto de estudos sobre estatísticas judaicas. Adaptado do original de Uriah Zevi Engelman "Sources of Jewish Statistics", publicado originalmente em The Jews: Their History, Culture and Religion, org. Louis Finkelstein, Londres: Peter Owen Limited, 1961.


Existem duas fontes de estatísticas demográficas judaicas: os censos demográficos oficiais e as pesquisas de agências e instituições comunitárias. Nem todos os recenseamentos oficiais coletam estatísticas de religião, enquanto o órgão estatístico judaico privado mostrou-se, onde quer que tenha sido organizado, um substituto precário para os censos oficiais. Em consequência, as estatísticas demográficas judaicas são incompletas e deficientes por natureza.
Os governos que coletam estatísticas demográficas sobre as diversas religiões o fazem por meio dos censos demográficos decenais. Seu objetivo é enumerar os membros de cada grupo. A questão concernente à religião aparece na forma de um item separado no questionário. É dirigida a cada indivíduo, ao qual pede-se que declare sua religião com suas próprias palavras, não importando se frequenta uma igreja ou templo, se pertence a ela ou observa todos os seus regulamentos. O método da auto-identificação também não permite distinguir aqueles que nasceram de uma família judaica daqueles que se converteram, formal ou informalmente.  
Um arraigado antagonismo contra a inclusão de um quesito religioso no censo demográfico impede muitos governos, contudo, de coletarem estatísticas, tanto acerca de judeus, como de outros grupos religiosos. Esse antagonismo é muito comum nos países democráticos, e baseia-se na convicção de que a religião é um assunto íntimo e privado de cada indivíduo. Alega–se também que não apenas viola o princípio da liberdade de consciência como, despertando em quem está sendo entrevistado suspeita de preconceito, terá efeito negativo na exatidão das respostas. Ou ainda teme-se que as  informações possam ser interpretadas sob luz negativa ou preconceituosa.
Infelizmente tais temores tem justificativas históricas. No passado, mais de uma vez, e em mais de um país, uma legislação discriminatória se seguiu ao censo. Evidentemente, a situação é diversa nos modernos estados democráticos. O censo não é mas temido como fonte de legislação discriminatória. A pergunta sobre religião do questionário (formulado simplesmente como “qual é a sua religião?”) permite que o indivíduo declare o seu credo particular, ao passo que as tabelas finais publicadas classificam as respostas em função de variáveis como sexo, idade, lugar de residência etc. Finalmente, as respostas à questão religiosa são opcionais. Não há sanção alguma para a recusa em responder a esta questão, enquanto que as demais costumam ser obrigatórias, obrigatoriedade esta usualmente assentada sobre algum dispositivo constitucional.
Porém, antigas suspeitas não morrem facilmente. Atualmente existem muitos países em que se acha indesejável uma solicitação direta, ainda que opcional, para que se declare a opção religiosa. Isso é muito comum em países que guardam em sua história episódios de conflitos religiosos, como é o caso de muitos países da Europa. Nos Estados Unidos o censo também não pergunta sobre religião por injunção da suprema corte. Em alguns países, como é o caso da Inglaterra, durante muito tempo o censo se absteve de perguntar a religião. Recentemente, no entanto, no contexto multicultural típico das sociedades modernas, a agência censitária inglesa voltou a coletar dados sobre religião dos entrevistados, num processo genuíno de compreensão das características da população, sobretudo a de imigrantes.
O âmbito dos dados demográficos sobre judeus também varia muito. A Rússia, a Alemanha e a Polônia forneceram, no passado, uma descrição demográfica pormenorizada sobre o tamanho da população judaica, distribuição masculina e feminina, distribuição rural e urbana, ocupações, e grupos etários.
Existiram poucas organizações de pesquisa estatística judaica no mundo fora de Israel, onde, desde a fundação do país, uma agência dotada de padrão de qualidade internacional coleta dados sobre a população (inclusive a religião) através de um conjunto de pesquisas periódicas. É evidente que no contexto de instabilidade política do Oriente Médio a questão demográfica é de vital relevância.
Antes da fundação de Israel havia agências de coleta e análise de estatísticas judaicas em alguns países da Europa. Havia uma na Alemanha, por exemplo. O Yddish Scientific Institute (YIVO), com sede em Vilna, na Lituânia, também possuía uma seção de estatísticas. Depois da ocupação de Vilna pelos nazistas, o YIVO foi transferido, em 1940, para Nova York. A Associação Agrícola Judaica, na Rússia czarista, empenhou-se também em estudos estatísticos amplos.
Atualmente o American Jewish Committee publica anualmente um balanço da comunidade judaica em âmbito mundial. Além das estatísticas de Israel, especialistas em população monitoram a situação das comunidades da diáspora, tanto através do acompanhamento das estatísticas nacionais, quanto através de uma bem informada avaliação e comparação dos dados disponíveis, sejam eles de origem oficial ou não.